
Na Bahia, se tornar piloto comercial custa a partir de R$ 100 mil e exige dedicação. Viajar o mundo e ainda ganhar para isso. A profissão de piloto de avião, apesar de bem remunerada, enfrenta escassez em praticamente todos os países. Até 2044, a previsão é que cerca de 137 mil novas vagas sejam abertas apenas na América Latina. Na Bahia, se tornar piloto comercial custa a partir de R$ 100 mil e exige dedicação.
Apenas uma escola de aviação localizada em Salvador forma, em média, 400 pilotos por ano. Até que sejam autorizados a comandar aviões de grandes companhias aéreas, os alunos encara um longo – e caro – percurso. A trajetória profissional começa com a formação como piloto privado em uma escola homologada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), com curso teórico e comprovação de 40 horas de voo.
Não é exagero dizer que as horas no céu passam mais rápido e valem muito mais do que em terra firme. A ‘hora aula’ do curso de piloto privado custa, em média, R$ 750. Ou seja, o aluno chega ao final do curso desembolsando pelo menos R$ 30 mil. A parte teórica costuma ser vendida por cerca de R$ 2 mil. Mas se engana quem pensa que após essa fase, os recém formados já podem começar a distribuir currículos por aí.
A finalização do curso de piloto privado apenas abre as portas para a segunda etapa, que é ainda mais onerosa: a da formação como piloto comercial. São exigidas mais 110 horas de voos, sendo que cada tem como média o valor de R$ 850. O investimento, portanto, supera os R$ 100 mil. Só a partir daí, os pilotos podem ser contratados para pilotar aeronaves e ganhar por isso.
“A formação de um piloto possui etapas essenciais que são obrigatórias pela Anac. Todos esses custos embutidos na formação, muitas vezes, espanta aqueles que têm o desejo de seguir com a profissão”, diz Felipe Tiburtius, piloto e diretor da escola de aviação Falcon. Seis turmas estão em curso na escola localizada em Salvador. Apesar de admitir que os altos custos afastam os pretendentes, o piloto pondera que os salários compensam o investimento.
Demanda crescente
A Boeing, uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, prevê que o setor aéreo precisará de 2,4 milhões de novos profissionais nos próximos 20 anos, sendo 660 mil pilotos. A estimativa integra a Previsão para Pilotos e Técnicos, divulgada neste ano. Com o aumento da oferta de voos, a contratação de novos pilotos é cada vez mais urgente.
Nesta semana, a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur) anunciou 3,7 mil voos extras, com rotas para Salvador, Ilhéus, Porto Seguro, Vitória da Conquista, Morro de São Paulo e Boipeba. A ampliação da oferta atende ao aumento da demanda durante o Verão 2025/2026. “A estratégia contribui para colocar a Bahia na liderança do turismo brasileiro. Com a proximidade do verão, o trabalho foi reforçado para atender a demanda de viajantes nacionais”, diz a pasta.
Na esteira do aquecimento da demanda, a companhia aérea Gol anunciou que vai contratar 30 copilotos por mês até o fim de 2025, a fim de suprir ‘a maior alta temporada de verão de sua história’. O anúncio foi feito neste mês. Já a fabricante Boeing anunciou na terça-feira (14), que entregou 55 aeronaves comerciais em setembro. É o maior número para o mês desde 2018, o que aponta para a retomada no ritmo de produção após a instabilidade do setor provocada pela pandemia.
Formação
Para Carlos Bayer, piloto desde 1997, faltam oportunidades para a formação de pilotos baianos. “Existem estados brasileiros com muito mais oportunidades para formação. Muitas das pessoas que querem pilotar aviões aqui, acabam fazendo cursos em outros locais, como São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais, que são estados com horas de voo mais baratas”, afirma o piloto, que é sócio da Aeronautas Escola de Aviação. A regra é clara: quanto maior a oferta, menor os preços.Ele também avalia que incentivos do governo poderiam ajudar na formação de novos pilotos, como uma espécie de financiamento da aviação. “No passado, devido à escassez, houve um subsídio do Governo Federal para horas de voo. Poucas pessoas foram beneficiadas e o projeto foi descontinuado”. “Um dos maiores problemas é a falta de concorrência, que torna os preços mais caros, e o valor elevado dos combustíveis, que impactam nas horas de voo”, completa.
Felipe Tiburtius, da escola de aviação Falcon, reforça que os salários dos pilotos são compatíveis com o valor gasto com a formação. “A remuneração de um piloto, hoje em dia, equivale aos salários de médicos, por exemplo”, afirma. No exterior, as cifras são ainda mais elevadas. “O mercado vem se expandindo, e muitos dos pilotos que se formam no Brasil preferem tentar carreira internacional. O investimento é alto, mas o retorno é garantido”, afirma. (Correio 24h)