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Lula ataca elo de governo e centrão, mas flerta com bloco

O plano, que deve ser mantido na montagem das coligações e palanques, facilita o posicionamento da campanha petista caso haja cobranças sobre incoerência nos ataques feitos a Bolsonaro.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que nesta terça-feira (27) criticou a aproximação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com o centrão, também flerta com partidos do bloco para alianças nas eleições de 2022, mas petistas buscam diferenciar os movimentos de ambos. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula ironizou a postura do rival –que entregou a Casa Civil a um expoente do centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI)– e apontou contradição entre o discurso de Bolsonaro na campanha de 2018 e o que faz no Executivo. “E o Bolsonaro que ficava falando que ia acabar com ‘a velha política’. Qual é a nova política do Bolsonaro? Ficar refém do centrão? […] É isso que é a nova política? O Bolsonaro não cumpriu uma [só] coisa que ele falou”, disse à Rádio Difusora de Goiás, repetindo as declarações em redes sociais.

O PT governou com o apoio do centrão no Congresso e só perdeu a sustentação às vésperas do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, quando os aliados, mesmo com cargos e verbas, desembarcaram da aliança. Legendas do grupo ainda votaram pela saída da mandatária. Em sua pré-campanha, Lula já conversou com os presidentes nacionais do PSD, Gilberto Kassab, e do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, com o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), e com a senadora Kátia Abreu (PP-TO). Sua estratégia é buscar inicialmente partidos de centro-direita com os quais tem maior interlocução e apostar em diálogos com líderes regionais para tentar amarrar apoios locais, especialmente no Nordeste, onde tem seu melhor desempenho nas pesquisas.

Auxiliares que acompanham as negociações dão como certo que até siglas do bloco que no plano nacional estão com Bolsonaro, como PP, PL e Republicanos, podem registrar defecções, com caciques nos estados apoiando a provável candidatura de Lula. PTB, PROS, PSC, Avante e Patriota também são listados como membros do centrão. Desde que recobrou o direito de se candidatar, em março, Lula vem afagando o segmento. Em maio, ele afirmou que a imprensa “induz ao erro quando diz que o centrão está todo com o Bolsonaro”. “Não tratem o centrão como um partido único. Ao apagar das luzes da Câmara dos Deputados, cada partido tem interesse no seu estado. Vamos conversar individualmente com cada partido político”, disse, reforçando a tática de particularizar as siglas.

O plano, que deve ser mantido na montagem das coligações e palanques, facilita o posicionamento da campanha petista caso haja cobranças sobre incoerência nos ataques feitos a Bolsonaro. Nesta terça, Lula disse também que, por causa da inabilidade de seu oponente, o Brasil está sendo governado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “O presidente virou uma rainha da Inglaterra.” Segundo petistas ouvidos pela reportagem, a alfinetada de Lula mencionando o centrão foi mais para atacar a guinada de Bolsonaro, que demonizava as coalizões partidárias e agora faz malabarismos retóricos para justificá-las, e evidenciar o esfarelamento político do governo.

Para o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto, o fato de os partidos no Brasil serem heterogêneos e descentralizados exige avaliação caso a caso. “Estamos em um regime democrático, em que o Executivo tem que dialogar com o Parlamento e governar significa ter maioria no Parlamento. Bolsonaro perdeu a hegemonia política, virou mesmo um refém”, diz. “A nossa diferença, me parece que este é o nosso limite, é que não vamos abrir mão da hegemonia, que é dada pelo partido eleito, e muito menos do nosso programa, que será um projeto de transformação do país e de combate à desigualdade”, segue Tatto, sobre uma possível vitória do PT.

O ex-ministro Tarso Genro, que cuidou da interlocução do governo Lula com o Congresso entre 2006 e 2007, diz ser natural “identificar lideranças do espectro do centro” para formar alianças e eventual base de apoio. “No presidencialismo de coalizão, não há possibilidade de se ter estabilidade de governo sem que se vá até o centro político, ser centrão ou não. O centro é que compõe as maiorias no Parlamento. Foi o que nós fizemos, sem comprometer a transparência ou as prioridades do governo”, afirma. Segundo Tarso, a articulação de Lula não se confunde com a de Bolsonaro. “A coalizão que Lula está formando não vai se apoiar em partidos que integram esse centrão que está aí, um centro pervertido sob o bolsonarismo. Não pode ser uma composição fisiológica de ocasião.”

“Bolsonaro, depois de caluniar toda a esfera política, está se ligando aos piores setores dessa mesma política para simplesmente manter a administração funcionando, renunciando inclusive à sua visão de dizer que os políticos no Brasil não prestam”, avalia. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, tem atacado o casamento de Bolsonaro com o centrão também sob o prisma do toma lá, dá cá. Ela já disse que “motivos não faltam” para Lira se recusar a analisar os mais de cem pedidos de impeachment protocolados na Câmara. “Bolsonaro está irrigando as bases eleitorais do centrão com recursos públicos. Quanto vale a vida do povo brasileiro pra essa gente?”, postou Gleisi em uma rede social.

Lula também contestou na entrevista as propostas para que abra mão da candidatura à Presidência, em nome de uma união ampla contra Bolsonaro em 2022, e aceite ser vice, copiando o modelo adotado na Argentina pela ex- presidente Cristina Kirchner. “Quem está pedindo para eu ser candidato a vice deveria se lançar candidato a presidente”, provocou. “Quem quiser evitar polarização se candidate. É simples. Em 89 entrei como azarão, disputando com 12 candidatos. E fui para o segundo turno. Cada partido que tiver incomodado, basta lançar candidato.”

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