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A cor do momento

As melhores plantações, por exemplo, estão inseridas no que é conhecido como cabruca, sistema onde os pés de cacau ficam sob a sombra de árvores da floresta nativa, quase sempre, espécies da Mata Atlântica.

A avaliação geral é que essa indústria já vem dando certo por aqui, mas tem chances de crescer ainda mais num futuro próximo.

Antes do processo de industrialização iniciada no alvorecer da década de 1970, a economia do estado era basicamente mantida pelo cacau produzido no Sul da Bahia. Ao todo, apontaram inúmeros estudos, a produção do fruto chegou a responder por 60% do PIB baiano. Anos depois de ser devastada por pragas, como a vassoura-de-bruxa, a lavoura cacaueira ressurge no horizonte não pelo seu produto inicial, a amêndoa vendida e exportada para todo o mundo, mas pelo final – o chocolate. Enquanto a maioria dos consumidores continua com os olhos postos nas fabricantes belgas e suíças, na Região Cacaueira floresce uma pequena, mas crescente, indústria de chocolates finos.

Pouco a pouco, ela vem ganhando mercado com artigos de qualidade equiparável a dos europeus. Daí a necessidade de políticas públicas de estímulo à produção no Sul do estado. Na maior vitrine para negócio no Brasil – o Festival Internacional do Chocolate, realizado em Ilhéus -, produtores de cacau e fabricantes discutiram exaustivamente como consolidar a Bahia no mapa dos chamados chocolates de origem, feitos com frutos de uma região específica.

A avaliação geral é que essa indústria já vem dando certo por aqui, mas tem chances de crescer ainda mais num futuro próximo. Uma das medidas mais debatidas foi a adoção do percentual mínimo de 35% de cacau para que o produto seja considerado chocolate, cujo projeto de lei tramita no Congresso.

Hoje, há produtos abaixo dos 25% em larga escala. Se não cair diante do lobby patrocinado por gigantes mundiais do setor de alimentos, a proposta abre espaço para o crescimento de toda a cadeia produtiva do cacau. Primeiro, por alavancar a venda dos frutos. Segundo, por alinhar os produtos brasileiros ao padrão dos europeus.

O que garante aos fabricantes de chocolates de origem uma fatia importante do mercado internacional. Isso por si só não assegura a sustentabilidade da indústria a longo prazo. É preciso também fomentar pesquisas e métodos que levem ao aprimoramento dos frutos cultivados no Sul da Bahia. Qualidade superior, como se sabe, resulta em preços mais altos. Para entender a diferença: atualmente, a arroba (15 kg) de cacau comum é comprada pelas multinacionais que dominam o setor no país por um preço entre R$ 100 a R$ 113.

Os fabricantes de chocolate da Bahia chegam a pagar até R$ 200 por uma arroba com amêndoas classificadas como top. Contudo, a importância de se preservar e estimular a lavoura sul-baiana vai além dos aspectos econômicos. Há ativos ambientais, culturais e sociais de alto valor nas fazendas e cidades rodeadas pelos pés de cacau. As melhores plantações, por exemplo, estão inseridas no que é conhecido como cabruca, sistema onde os pés de cacau ficam sob a sombra de árvores da floresta nativa, quase sempre, espécies da Mata Atlântica.

A lavoura cacaueira é também um raro caso de monocultura que enriquece o solo. Costuma-se brincar, entre os antigos plantadores, que ao lado de um pé de cacau nasce até gente. Ao contrário de outras grandes culturas agrícolas, a do Sul do estado não comporta mecanização, é quase toda manual. Ou seja, serve como empregador em larga escala. Nela também se derrama todo imaginário descrito nos romances de Jorge Amado, Adonias Filho e Euclides Neto, três luminares da literatura do cacau, tão gostosa quanto um bom chocolate daquela região.(Correio)

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